domingo, 10 de janeiro de 2010

Festa de São Gonçalinho (Aveiro)



Assisti ontem pela primeira vez (finalmente!) à Festa de São Gonçalinho, em Aveiro. Nenhuma cavaca me atingiu mas, apesar do frio que se sentia, foi uma experiência que gostei de ter assistido. Dizem que melhora a performance de sedução...

A festa típica do Bairro da Beira-Mar, em Aveiro, começou quinta-feira à noite. Na romaria ao São Gonçalinho, atiram-se cavacas do cimo da capela para pagar as promessas.
O São Gonçalinho é recomendado para quem sofre de problemas nos ossos e para as mulheres que não conseguem arranjar marido.
A romaria começou quinta-feira à noite, com um procedimento simples. Quem pediu um milagre ao Santo paga a promessa subindo à capela e, dali do alto, atira cavacas às centenas de pessoas que se acotovelam na pequena praça.
No entanto, as cavacas têm a particularidade de serem muito duras e há quem se arrisque a apanhar com uma na cara, como já tem acontecido. Mas as pessoas parecem não terem medo disso.
Sendo assim, quem está lá em baixo só tem uma solução. Tentar apanhar as cavacas antes delas caírem ao chão e conversar com os amigos sempre a olhar para cima.

A festa prolonga-se até segunda-feira, mas os dias mais fortes são sábado e domingo.

No bairro piscatório da Beira-Mar, em Aveiro, as redes lançam-se ao céu e não ao mar, para aparar cavacas doces que pagam promessas a S. Gonçalinho e são atiradas por devotos do alto da capela.
A sineta do templo toca a avisar o povo de que são lançadas as cavacas lá de cima, para os incautos se protegerem porque o doce é duro, mas sobretudo para que centenas de "pescadores do ar" ergam as nassas ou camaroeiros, disputando com perícia o doce, numa "faina" digna de se ver.
Num ritual secular que se repete a 10 de Janeiro de cada ano e no fim-de-semana que antecede a data.
Na pequena capela do bairro típico da Beira-Mar, o "mais cagaréu" dos santos de Aveiro presenteia quantos se juntam no adro com cavacas lançadas em cumprimento de promessas feitas para que exercesse a sua santa interferência em dificuldades mais ou menos íntimas. Cá em baixo, ao toque da sineta, junta-se povo de todas as idades, munido de paus com sacos de rede na ponta ou guarda-chuvas invertidos, para agarrar o máximo de cavacas. O espectáculo é ímpar e mais parece pertencer aos modernos "jogos sem fronteiras" do que a um ritual de devoção secular.
S. Gonçalinho é tido como milagreiro a tratar dos problemas conjugais de vária índole, ou mesmo a melhorar as "performances" de sedução. Na atmosfera intimista do pequeno templo hexagonal, os crentes consultam o santo sobre as suas preocupações mais privadas e a tradição dá-lhe fama de ser eficaz conselheiro matrimonial.
A consulta, paga na promessa de lançar do alto da Igreja uns quantos quilos daquele doce típico, nem sai cara, quando comparada com os gordos dízimos deixados nos modernos consultórios de especialistas menos reputados.
Não há caso que meta medo a S. Gonçalinho, desde a frigidez à impotência, da infertilidade aos problemas ósseos, chegando mesmo a prescrever remédio para o envelhecimento. Mesmo sem cirurgias plásticas, os ditames populares garantem que até para velhas que se sintam sozinhas arranja parceiro.
Rezam as crónicas que S. Gonçalinho não fia, nem admite avarezas. Aquele que não cumprir tem de se haver com a ira do santo.
Além do inusitado lançamento de cavacas, singular também é a "dança dos mancos" feita no templo e tolerada pela Igreja, num ritual quase pagão em que homens se fazem de deficientes e cantam brejeirices enquanto bailam à roda de um banco.

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