Em 2008, o freelancer Anthony Suau venceu a edição do World Press Photo pela segunda vez. A primeira foi em 1987 por causa do seu trabalho na Coreia do Sul.
A foto com que Anthony Suau ganhou a edição 2008 faz parte de uma foto-reportagem feita em Cleveland, Ohio (EUA). Nela vemos um polícia a revistar uma casa abandonada. O que destingue esta imagem é o facto de ter sido captada na sequência da crise de subprime que atingiu a economia americana com a mesma força e devastação com que o furacão Katrina atingira New Orleans. Em declarações à revista Time, o fotógrafo recordou o «estado de choque» que sentiu quando chegou a Cleveland: «Não havia uma única rua da cidade que não tivesse uma casa selada. Parecia o day-after do Katrina».
O que a câmara de Suau capta é a maior tragédia económica na América deste o período da Grande Depressão dos anos 30. Famílias obrigadas a pernoitar em abrigos por não terem possibilidade de pagar os empréstimos sobre as casas; ruas inteiras em que as casas foram abandonadas; e, na foto vencedora, vemos um detective, de arma em punho, certificando-se de que a casa foi realmente abandonada. O uso do preto-e-branco reforça a associação aos fantasmas americanos da Grande Depressão.
O próprio Anthony Suau – citado pelo Público – afirmou estar a atravessar muitas dificuldades na sua vida profissional: é freelancer, mas há dois meses que não recebia qualquer encomenda e até já admitia «mudar de emprego e vender a casa» que comprou para a família caso a situação não melhorasse.
Não estamos a falar de um fotógrafo qualquer, mas de alguém com uma carreira recheada de prémios. Começou aos 23 anos, em 1979 e, até 1985, trabalhou para os jornais Chicago Sun-Times e Denver Post. Em 1984, uma série de fotos mostrando a fome na Etiópia deu-lhe um dos mais cobiçados prémios do jornalismo, o Pulitzer. Tinha 28 anos. Um ano depois, entra na agência Black Star, dirigida por Howard Chapnick, um dos gigantes do fotojornalismo, e é nesse mesmo ano mais uma vez premiado, desta vez pela International Center of Photography Award, que o distingue com o prémio Outstanding Photographer under 30. Depois de ser considerado o fotógrafo de revista do ano pela NPPA Pictures of the Year, vence o World Press Photo 1987.
Documentou durante 10 anos as transformações na então União Soviética, o que lhe permitiu lançar um livro e expor as fotografias em Washington, Berlim, Milão, Moscovo, Budapeste e Nova Iorque, entre outras cidades.
Em 2001, iniciou um novo projecto (Between World – Kabul – New York), onde justapunha imagens do 11 de Setembro com as que ele tirou em Kabul, no Afeganistão, após a retirada dos Taliban, em Novembro desse ano. Em 2006 criou um novo projecto – War Anti War – uma declaração contra a guerra feita a partir de uma colecção de imagens tiradas nos últimos 20 anos.
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