"As Mulheres de Meu Pai" tem como pano de fundo, não apenas a imagem geográfica do território africano (sobretudo de Angola, Moçambique e África do Sul), mas também a imagem social do povo africano.
"De quantas verdades se faz uma mentira" pergunta o autor José Eduardo Agualusa logo na primeira página. Que mentira maior para um homem que, das sete mulheres que lhe preencheram a vida, tenha tido 18 filhos, nascidos de seis delas, sendo estéril?
O compositor Faustino Manso (figura principal deste livro, embora a história comece no seu funeral) existiu e domina a narrativa, repleta de interrupções. Laurentina (marca de cerveja e substantivo atribuído aos antigos naturais de Lourenço Marques, hoje Maputo), uma das supostas filhas, investiga a vida do seu "pai" para uma reportagem audiovisual.
"As mulheres gostavam dele. Diziam: ainda que não nos ame, ama-nos mais e melhor do que a maioria dos homens".
"Era um tipo muito tranquilo, discreto, mas não podia ver uma gaja bonita. Mal a gente se distraía ele comia-nos a mulher, as filhas, até a mãe, dependendo da idade. Há malta aqui que não pode nem ouvir a música dele. Conheço um que é alérgico. Basta eu colocar, por exemplo, "Luanda ao Crepúsculo" e ele começa a tossir, e a engasgar-se, e a respirar mal. A menina sabe qual era a alcunha do Faustino, entre nós, em quelimane? -Piscou-me o olho enquanto me servia mais uma cerveja. - O Paulatino. Quero dizer, o Pau Latino..."
O livro foi publicado em 2007, 32 anos passados sobre a descolonização, e pretende dismistificar ideais, registar aculturações sem deixar de preservar crenças enraízadas. A não perder.
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