terça-feira, 20 de novembro de 2007

África Acima-Gonçalo Cadilhe

"Tenho um outro pequeno problema: a comida industrial traz consigo um corolário interminável de subprodutos também eles industriais. Inorgânicos, não degradáveis. Latas, plásticos, cartão, papel, tinta. O que fazer com eles? A minha consciência ecológica obriga-me a colocar tudo num saco plástico e depositar no próximo contentor do lixo que encontrar. Mas o meu problema é esse: ninguém sabe onde se poderá encontrar um próximo contentor.
Os meus companheiros de viagem não têm este problema, porque nem sabem que ele existe: nem o contentor, nem o problema. É perfeitamente natural jogar pela janela fora todo o lixo produzido. É, aliás, de bom-tom. O que faz esse branco aí com o lixo? Guarda-o? Mas é um porco, onde já se viu viajar com o lixo. Ainda nos pega alguma doença, com toda essa imundíce a apodrecer dentro desse saco plástico aos seus pés. Um passageiro mais compreensivo assume que eu estou apenas distraído, e com a melhor das intenções aponta-me a janela. Agarra no meu saco e, depois de me mostrar que o segura com ar de nojo, joga-o por fim pela janela fora com um sorriso severo".

Esta passagem deste livro que acabei hoje de ler, revela o choque de culturas: a Europeia e a Africana.

Este livro delicioso relata uma viagem de alguns meses que um jornalista do Expresso, natural da Figueira da Foz, fez entre África do Sul e Marrocos. Por terra e água. Por ar não, porque "voar sobre África não é viajar por África".

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